As Primeiras experiências de escrita na língua caboverdiana datam do século XIX, sendo o fi lólogo português Adolfo Coelho o pioneiro dessa experiência com o seu ensaio sobre «Os Dialectos Românicos ou neolatinos da África, Ásia e América», publicado em 1880.
1. Experiência Etimológica
A experiência de Adolfo Coelho baseava-se no alfabeto português, de base etimológica, utilizado de forma pouco sistemática e pouco económica.
Em 1885 surge um novo modelo de escrita do caboverdiano com António de Paula Brito no seu ensaio «Apontamentos para a Gramática do Crioulo que se fala na Ilha de Santiago de Cabo Verde».
Trata-se de um modelo de escrita baseado no alfabeto português, mas traz a novidade de ser largamente sistematizado, aproximando-se muito da escrita de base fonético-fonológica um modelo que surgiria mais tarde, já no século XX, particularmente na chamada Escola de Praga e de Ferdinand Saursure.
A proposta de António de Paula Brito, apesar de ser muito mais funcional que o alfabeto de base etimológica, não fez escola em Cabo Verde. Desconhece-se qualquer utilizador desse modelo para além do seu autor.
A experiência de Adolfo Coelho, porém, teve alguma continuidade no século XIX e mesmo no século XX e, de alguma forma, na actualidade também.
É assim, que em 1885 Joaquim Vieira Botelho e Custódio José Duarte publicam «O Crioulo de Cabo Verde, Breves Estudos sobre o Crioulo das Ilhas de Cabo Verde», oferecido ao estudioso austríaco Hugo Schuchardt.
Mais tarde, já na 1ª metade do século XX, a escrita de base etimológica foi utilizada por vários intelectuais e poetas como: Cónego Teixeira, na 1ª tentativa de cartilha para o ensino do crioulo; Napoleão Fernandes, no seu Léxico do Dialecto Crioulo de Cabo Verde; Eugénio Tavares, no seu livro Mornas-Cantigas Crioulas (1932); Pedro Cardoso, na sua obra Folclore Caboverdiano (1933).
Porém, é na 2ª metade do século XX que a escrita etimológica ganhou maior expressão. Surgiram os primeiros trabalhos académicos com os fi lólogos Baltasar Lopes da Silva e Maria Dulce Almada Duarte, respectivamente com O Dialecto Crioulo de Cabo Verde (1957) e O Crioulo de Cavo Verde - Contribuição para o Estudo do Dialecto Falado no … Arquipélago (1961).
A escrita etimológica, apesar da sua assistematicidade, encontrou eco junto de uma plêiade de poetas, compositores e escritores, sobretudo a partir dos anos 60 do século XX, com: B. Léza, Sérgio Frunzoni, Luís Romano, Jorge Pedro Barbosa, Ovídio Martins, Kaoberdiano Dambará, Kwame Kondé, Emanuel Braga Tavares, Ano Nobo, Manuel d’Novas, entre outros.
2. Experiência Fonético – Fonológica
Em 1975 Cabo Verde conquista a Independência e o País abre-se ao mundo. Os seus quadros são formandos em várias partes do globo e as novidades científicas, técnicas e culturais começaram a chegar às ilhas.
É assim, que em 1979, o então Ministério da Educação, Cultura, Juventude e Desportos organiza, através da Direcção Geral da Cultura, o 1º Colóquio Internacional sobre a Valorização do Crioulo Cabo-verdiano.
1. Experiência Etimológica
A experiência de Adolfo Coelho baseava-se no alfabeto português, de base etimológica, utilizado de forma pouco sistemática e pouco económica.
Em 1885 surge um novo modelo de escrita do caboverdiano com António de Paula Brito no seu ensaio «Apontamentos para a Gramática do Crioulo que se fala na Ilha de Santiago de Cabo Verde».
Trata-se de um modelo de escrita baseado no alfabeto português, mas traz a novidade de ser largamente sistematizado, aproximando-se muito da escrita de base fonético-fonológica um modelo que surgiria mais tarde, já no século XX, particularmente na chamada Escola de Praga e de Ferdinand Saursure.
A proposta de António de Paula Brito, apesar de ser muito mais funcional que o alfabeto de base etimológica, não fez escola em Cabo Verde. Desconhece-se qualquer utilizador desse modelo para além do seu autor.
A experiência de Adolfo Coelho, porém, teve alguma continuidade no século XIX e mesmo no século XX e, de alguma forma, na actualidade também.
É assim, que em 1885 Joaquim Vieira Botelho e Custódio José Duarte publicam «O Crioulo de Cabo Verde, Breves Estudos sobre o Crioulo das Ilhas de Cabo Verde», oferecido ao estudioso austríaco Hugo Schuchardt.
Mais tarde, já na 1ª metade do século XX, a escrita de base etimológica foi utilizada por vários intelectuais e poetas como: Cónego Teixeira, na 1ª tentativa de cartilha para o ensino do crioulo; Napoleão Fernandes, no seu Léxico do Dialecto Crioulo de Cabo Verde; Eugénio Tavares, no seu livro Mornas-Cantigas Crioulas (1932); Pedro Cardoso, na sua obra Folclore Caboverdiano (1933).
Porém, é na 2ª metade do século XX que a escrita etimológica ganhou maior expressão. Surgiram os primeiros trabalhos académicos com os fi lólogos Baltasar Lopes da Silva e Maria Dulce Almada Duarte, respectivamente com O Dialecto Crioulo de Cabo Verde (1957) e O Crioulo de Cavo Verde - Contribuição para o Estudo do Dialecto Falado no … Arquipélago (1961).
A escrita etimológica, apesar da sua assistematicidade, encontrou eco junto de uma plêiade de poetas, compositores e escritores, sobretudo a partir dos anos 60 do século XX, com: B. Léza, Sérgio Frunzoni, Luís Romano, Jorge Pedro Barbosa, Ovídio Martins, Kaoberdiano Dambará, Kwame Kondé, Emanuel Braga Tavares, Ano Nobo, Manuel d’Novas, entre outros.
2. Experiência Fonético – Fonológica
Em 1975 Cabo Verde conquista a Independência e o País abre-se ao mundo. Os seus quadros são formandos em várias partes do globo e as novidades científicas, técnicas e culturais começaram a chegar às ilhas.
É assim, que em 1979, o então Ministério da Educação, Cultura, Juventude e Desportos organiza, através da Direcção Geral da Cultura, o 1º Colóquio Internacional sobre a Valorização do Crioulo Cabo-verdiano.
A importância histórica desse Colóquio é muito grande já que é nele que surgiu a primeira proposta de um modelo de alfabeto fonético-fonológico para a escrita na língua cabo-verdiana.
Esse modelo, apesar de ser de base latina, afastavas e grandemente do modelo de base etimológica que não só era pouco económico, mas sobretudo era e é pouco sistemático.
A proposta de base fonética-fonológica foi largamente usada, durante dez anos (1979-1989), na recolha e transcrição de tradições orais; na então Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário; no «Bilingual Program», nos EUA; na publicação de várias trabalhos da tradição oral; no ensaio Diskrison Strutural di Língua Kabuverdianu; no primeiro romance na Língua Caboverdiana (Oju d’Agu); na Introdução à Gramática do Crioulo, em vários contos, livros de poesia e teses académicas na Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário.
3. Experiência Unificada entre o Modelo Etimológico e o Modelo Fonológico.
A escrita à base do modelo fonológico surgido em 1979 foi largamente utilizada, mas foi também largamente criticada.
Em 1989, após dez anos de experiência, o modelo foi avaliado no Fórum de Alfabetização Bilingue e chegou-se à conclusão que havia a necessidade de reformar esse padrão de escrita.
Foi criada uma Comissão Consultiva que deu um parecer favorável quanto à reforma pretendida, tendo indicado alguns caminhos que essa reforma deveria tomar.
Assim, em 1993, foi criado o Grupo de Padronização para dar corpo a essas reformas. O Grupo formado por linguistas, professores e escritores trabalhou durante seis meses, tendo apresentado um estudo sobre a matéria e uma Proposta das Bases do Alfabeto Unifi cado para a Escrita do Cabo-verdiano - ALUPEC.
O ALUPEC só viria a ser institucionalizado, a título experimental, quatro anos depois, isto é em Dezembro de 1998.
De então para cá, esse modelo de escrita foi largamente utilizado no ensino em Cabo Verde e na diáspora (EUA, Portugal, Holanda…): na investigação académica e na elaboração de várias teses em Cabo Verde, EUA, Portugal, França…; na edição de várias obras poéticas, ensaísticas, lexicográfi cas e de divulgação de tradições orais.
De sublinhar que após a aprovação do ALUPEC todos os estudos académicos em Universidade estrangeiras e em Institutos Nacionais Superiores de Ensino utilizaram esse modelo de escrita, o que não deixa de ser muito signifi cativo.
É ainda de grande relevância o facto da Comissão Nazarena de Tradução da Bíblia ter adoptado esse modelo de escrita, desde 2000, tendo já traduzido alguns textos evangélicos no livro Notísias Sabi di Jezus.
Um outro dado relevante é a tradução, nesse modelo de alfabeto, de grandes clássicos da literatura portuguesa pelo poeta José Luís Tavares.
Não deixa de ser relevante também a recente tradução, no ALUPEC, da Declaração Universal dos Direitos Humanos (2008).
4. Avaliação do ALUPEC e Proposta para institucionalização do ALFABETO CABO-VERDIANO
Dez anos após a aprovação do ALUPEC, foi realizado, em Dezembro de 2008, um Fórum para a avaliação desse modelo de escrita, durante o percurso feito e para perspectivar os caminhos do futuro.
O Fórum que reuniu vários utilizadores do ALUPEC (Linguistas, professores, escritores, tradutores…) chegou às seguintes conclusões:
1. Que o ALUPEC é um instrumento útil e funcional para a escrita na língua cabo-verdiana;
2. Que se deve criar incentivos para a escrita do ALUPEC;
3. Que se deve criar um Instituto Autónomo ou uma Academia para se ocupar da problemática da língua cabo-verdiana.
4. Que a padronização da escrita deve ser um caminho sempre em aberto, onde se privilegia a ciência, o consenso e o bom-senso, sujeitos à avaliação e adaptação periódicas. Nesse sentido, deve-se continuar a aprofundar a questão da acentuação e do til, bem como a representação da constritiva velar nasal Ñ, do Y e do LH.
5.Que o ALUPEC - pela funcionalidade e utilidade demonstradas; pelo interesse académico, social e cultural de que tem sido objecto; pela plasticidade na representação de todas as variantes da língua; por não ter tido a concorrência de nenhum outro modelo alfabético sistematizado e consistente - deve ser instituído, defi nitivamente, como Alfabeto Cabo-Verdiano.
Assim,
No uso da faculdade conferida pela alínea a) do nº 2 do artigo 216º da Constituição, o Governo decreta o seguinte:
Artigo1º
(Instituição do Alfabeto Cabo-verdiano)
(Instituição do Alfabeto Cabo-verdiano)
1. O Alfabeto Unifi cado para a Escrita da Língua Caboverdiana (ALUPEC), aprovado, em regime experimental, pelo Decreto-Lei nº 67/98, de 31 de Dezembro, é instituído como Alfabeto Cabo-verdiano.
2. O Alfabeto Cabo-verdiano funciona como um sistema gráfi co nacional para a escrita da língua cabo-verdiana.
Artigo 2º
Letras e Dígrafos
2. O Alfabeto Cabo-verdiano funciona como um sistema gráfi co nacional para a escrita da língua cabo-verdiana.
Artigo 2º
Letras e Dígrafos
1. O Alfabeto Cabo-verdiano integra vinte e quatro letras e quatro dígrafos, devendo a ordem das letras figurar antes dos dígrafos.
2. As letras, em maiúsculas e minúsculas, são as seguintes:
a) Maiúsculas
A B D E F G H I J K L M N Ñ O P R S T U V X Y Z
b) Minúsculas
a b d e f g h i j k l m n ñ o p r s t u v x y z
3. Os dígrafos, em maiúsculas e minúsculas, são as seguintes:
a) Maiúsculas
DJ LH NH TX
b) Minúsculas
dj lh nh tx
Artigo 3º
Promoção de medidas
O Governo promove as medidas necessárias com vista ao aprofundamento do estudo científico e técnico do alfabeto, ora instituído, e à padronização da escrita nele baseada.
Artigo 4º
(Entrada em vigor)
O presente diploma entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros.
José Maria Pereira Neves - Manuel Monteiro da Veiga
- Vera Valentina Benrós de Melo Duarte.
Promulgado em 5 de Março de 2009.
Publique-se:
O Presidente da República, PEDRO VERONA RODRIGUES PIRES.
Referendado em 6 de Março de 2009.
1. O Primeiro-Ministro, José Maria Pereira Neves.
2. As letras, em maiúsculas e minúsculas, são as seguintes:
a) Maiúsculas
A B D E F G H I J K L M N Ñ O P R S T U V X Y Z
b) Minúsculas
a b d e f g h i j k l m n ñ o p r s t u v x y z
3. Os dígrafos, em maiúsculas e minúsculas, são as seguintes:
a) Maiúsculas
DJ LH NH TX
b) Minúsculas
dj lh nh tx
Artigo 3º
Promoção de medidas
O Governo promove as medidas necessárias com vista ao aprofundamento do estudo científico e técnico do alfabeto, ora instituído, e à padronização da escrita nele baseada.
Artigo 4º
(Entrada em vigor)
O presente diploma entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros.
José Maria Pereira Neves - Manuel Monteiro da Veiga
- Vera Valentina Benrós de Melo Duarte.
Promulgado em 5 de Março de 2009.
Publique-se:
O Presidente da República, PEDRO VERONA RODRIGUES PIRES.
Referendado em 6 de Março de 2009.
1. O Primeiro-Ministro, José Maria Pereira Neves.