segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sobre a Poligamia

Sempre soube que a Poligamia é um regime familiar, em que o homem tem várias mulheres de esposas, ao mesmo tempo. Num convívio muitas vezes solicitadas pelas próprias mulheres que cansadas dos afazeres domésticos e das gravidezes, pede ao marido para contrair outro matrimónio. Logo, há um assentimento tácito da primeira mulher para o seu esposo procurar e casar com uma segunda mulher. A primeira mulher é a rainha dentre as esposas, o seu primeiro filho varão será o herdeiro directo do trono do pai. As mulheres convivem-se e solidárias uma com a outra. Para elas arranjar um marido era questão de honra, dignidade e sustento. Honra porque a sociedade despreza a mulher solteira, dignidade e sustento por causa da pobreza, ainda mais exacerbada para a mulher que era mais dificil conseguir um emprego. Todo o sistema poligámico, sua existência, estava condicionado a uma exigência moral e social e a demanda de um desenvolvimento sócio-económico. Sendo estas as suas bases.

Manteve-se por crença e, diz-se, para reduzir o número de mulheres solteiras e em consequente proporcionar o seu respeito e a sua dignidade e de toda a comunidade em que estão inseridas. Ainda para garantir uma maior produção familiar de alimentos e riquezas.

Importa ressaltar, a estas mulheres é concedido o direito de aceitar tal sistema familiar. Se a mulher não é fruto deste sistema ela não consegue aceitar, e talvez nem conseguirá sobrevivê-lo.

Em Cabo Verde, homens, descendentes de portugueses, perpetuam o hábito herdado de “arrecadar” várias mulheres. Só que, há uma diferença, as mulheres, em Cabo Verde, desconhecem tal facto, ou seja, que estão dentro deste sistema e como um dos autores principais, e do direito de que têm de aceitá-lo ou não. Outras quando chegam a saber abandonam o relacionamento, assim, passando de mãos em mãos (lembrou-me uma música brasileira). E têm outras que sem alternativa económica e principalmente social, que as estigmatiza, mantém no relacionamento desequilibrado.

Esta última é considerada pela Psicologia uma patologia, inclusive referente àquelas mulheres que sofrem maus-tratos físicos e psíquicos e mesmo assim permanecem na relação. – E QUANTO À PROLIFERAÇÃO E PERPETUAÇÃO DA VIOLÊNCIA???

Assim, em Cabo Verde, vive-se tal sistema de forma informal, sem ser a institucional (assim designado num documento feito por solicitação do Instituto Caboverdiano da Criança e do Adolescente quando ainda era Instituto Caboverdiano de Menores). Só que os homens sustentam a poligamia informal sexual (grifo nosso), baseada na satisfação/libertação sexual. Notório que uma grande parcela de mulheres o têm permitido. Bom pelo menos elas têm consciência, mesmo que parcial, da sua realidade.

Custa mais, em relação àquelas mulheres que não escolheram, quer seja imagiram, pediram, ou aceitaram a Poligamia. Àquelas que foram premeditamente encruzilhadas, sem nunca conhecerem ou desconfiarem que estavam dentro de um sistema poligámico.

Estórias são constantemente verbalizadas, planos são constantemente imaginados para, que os homens, alcançassem as suas metas e as mulheres marimbadas.

Homens têm que diz amar-te tanto que até chora ao dizê-lo só para tirar a tua virgindade, outro que faz-te sua melhor amiga, presente em todos, os bons e difíceis, momentos, e, aqueles, the last but not the least, que desavergonhadamente tramam estórias, aniquilando a tradição oral e todo o equilíbrio da natureza. Homens capazes e competentes para enganar, iludirem e seduzi-la.

Tudo acontece por a Mulher não reflectir sobre o seu papel no Universo (plano vertical) e na sociedade (plano horizontal). Que não são as Histórias e Estórias contadas, esteréotipos, mas MULHERES, assim como foram a Hatshepsut, Maat, Nerfitiri, Tye, Nzinga, Shakur, Sheba, Yaa Asantewa, Isis, e muitas outras candaces (RAINHAS).

A rainha Afua diz que as mulheres são sagradas e como tal devem se comportar. Não podem estar numa relação a sofrer, mas a complementar-se com o seu esposo. Mulher e Homem são UM, representantes da Unidade, Dualidade e Trindade. Amantes do respeito e do equilíbrio, reis e rainhas, Adão e Eva do Universo, pai e mãe da humanidade.

Portanto, mesmo perante as constantes falsidades perpetuadas pelos homens contra as mulheres e às vezes pelas próprias mulheres, continuem a amar e a perpetuar o amor, cientes na vitória do bem sobre o mal. Importa sim resgatar o Respeito, a Lealdade, a Igualdade, Equidade, Balanço, Equilíbrio, Direito, Ordem, e consequentemente a Verdade e a Dignidade ancestrais.

É preciso combater a falta de carácter, o pai hipócrita que viola a própria filha e negligencia a sua saúde, sustento, vestuário e habitação, humilha e vilipendia a própria mulher, desprezando os seus mistérios e valores ...

Entretanto, há homem que sabe tratar uma/sua mulher como uma verdadeira Rainha, conhece e reconhece a sua essência divina e por isso a maltrata. As mulheres precisam preparar-se, principalmente, para este homem.

As mulheres precisam educar-se/aprender para melhor educar/ensinar, construir, uma humanidade de homens e mulheres autênticos, e, assim, alcançar o equilibrio da natureza.

Se for para continuar a falar, de homens e mulheres, detenho muitas poesias de dor e felicidade, dores que realmente pesam e felicidades que integralmente alegram, entretanto permitam-me aludir a poesia de Dina Salústio (ver artigo de 07 de Março de 2009 - Foram as dores que o mataram), pois melhor reflecte estes meus ambíguos sentimentos, e outros, encurtando assim este desabafo.

Por Abenaa.

1 comentário:

  1. Kwesi: matéria importante para dismitificar a poligamia como tradição harmoniosa entre pessoas.Aqui no Rio de Janeiro o fator AIDs está totalmente ligado a polígamia, uma vez que o contato de homens casados com travestis do centro da cidade é canal de transmissão de doenças para as mulheres envolvidas (mesmo sem saber) nesse tipo de relação, que num contexto capital é desequilibrada e doentia.

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