segunda-feira, 13 de julho de 2009

I - Pouco sabemos das ilhas de Cabo Verde

Alberga o primeiro liceu de cabo verde, grandes poetas, assim como as demais ilhas, é silenciosamente assolada pelas Seca, Isolamento e Imigração, e o seu povo, alguns, pela vontade e necessidade de sobrevivência, outros, já com o básico, apenas de ingressarem na arena do desenvolvimento nacional.

Nas magníficas e misteriosas montanhas de São Nicolau, debaixo de um sol verdadeiramente africano, ardente e arrasador, pessoas caminham longas trajectórias com a determinação de visitar familiares ou à labuta de mais um dia para o próprio sustento e substência familiar.

Localidades distantes, forçosamente construídas pelas características da ilha, isoladas, escondidas e protegidas pelas montanhas, com uma população corajosa e lutadora. Mulheres guerreiras de todas as idades, com os seus baleios e sacos na cabeça, homens brancos, olhos claros, de pele ressecada e escamada pelo sol, de idade avançada apoiados pelos seus paus, todos caminham pelas rochas lentamente até ao destino.

A realidade, São Nicolau é uma ilha de grandes montanhas e vales e mar de areia preta, característico de ilhas vulcânicas, como na ilha do Fogo. Dizem que a areia preta de São Nicolau tem um valor terapêutico, ainda muito procurado para males nos músculos e ossos. A ilha permanece, ainda, encantadora linda e natural.

Vivemos num vale que vai desembocar no mar, numa vila pequeníssima, cujas casas de uma arquitectura européia antiga e uma população muito curiosa. Na outra extremidade tens as montanhas que levam-te ao Tarrafal, localidade mais quentes e praias calmas, a Estância, Fajã, Monte Gordo, Queimadas, Hortelã, Carboerinho, Ribeira Pratas, Praia Branca, Covoada. Um dia fomos caminhar por dentro do vale em direcção à montanha, quase conseguimos tocar as nuvens, sentíamos a geada no rosto, só não prosseguimos por causa da inércia criada pela cidade e também, claro, o avançar da noite.
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II - Pouco conhecemos de Cabo Verde

1. Pouco se sabe da ilha de São Nicolau, uma das nove ilhas, habitadas, de Cabo Verde. Com uma população reduzida e, como dito, curiosa. Uma causa da outra. O pouco número caracterizou a personalidade desta mesma população, que por sinal regista também a parte intelectual de Cabo Verde e esforça-se para perpetuar este status. Inevitavelmente interessa-se pela vida do outro, para saber seu modo de vida e divulgar entre os demais, mais eficiente que uma novela. Qualquer informação dita, directamente a uma pessoa ou captada de uma conversa entre duas pessoas a passar pelas suas estreitas ruelas, movimenta-se com mais eficiência e eficácia que qualquer outro meio de comunicação.

As habitações estruturadas ao longo do vale, silenciosas. Passáros, o mar, as crianças, o vento, o coqueiro, o galo, montanhas, num harmonioso SOM. Em volta, rochas exuberantes e fatais, uma as primeiras fontes de sobrevivência desta população. Por lá, na época da fome, muitas famílias, mulheres e crianças, transitaram em busca de meios de sobrevivência e muitas ceifaram.

População mista, mulheres bonitas e fogosas, homens trabalhadores e pervertidos, entre si, competem questões bairristas. Os de caleijão orgulhosos, gabam-se de bons. Os de tarrafal, considerados os mais agressivos, por causa do sol e consequentemente clima quente e os da Vila Ribeira Brava, pelo clima frio e húmido, mais pacíficas (por acaso não vos lembra a mais de 500 anos antes).
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2. O divinal é caminhar no vale da Vila até encontrar o mar, atravessar as rochas e depois surgir uma localidade, e a CALMARIA. A ilha de São Nicolau é calma, de pouca, baixa e média, criminalidade, poucas alternativas para os que gostam de BARULHO das grandes cidades. Os únicos sons são das brincadeiras das crianças, poucos automóveis que passam de tempos em tempos, do vento, da semanal “tocatina” de músicas tradicionais na Criola ou no bar da Enacol.
Os lazeres, assistir ao lançamento de um livro publicado por um filho de terra que emigrou-se, moço, para São Vicente, a abertura de uma nova instituição bancária, o São Pedro, Pascoela, festa de baptizado e casamento, e passeios. Dizem que tem algumas discotecas, contudo, desconheço-as.

Noutro dia foi celebrada a inauguração da nova estrada Vila Ribeira Brava - Tarrafal. Conhecer a nova estrada, para aqueles que não a conheciam, é subir, contornar e descer rochas íngremes e de uma beleza espectacular. Para os de terra, lembrar os muitos acidentes e mortes.

Estórias de acidentes por aquelas estradas fazem parte do folclore da ilha. Tem um senhor que foi encontrado morto, não se sabe como, talvez esqueceu-se dos travãos, desceu do veículo e foi fazer alguma coisa na sua parte traseira, pode ser aliviar as bexigas, o veículo deslizou-se e atingiu-o, prendeu-o e arrastou até a berma da rocha. Foi encontrado desse jeito.
Nas ázaguas, as montanhas tornam-se verdejantes e húmidas de águas que deslizam em procura do mar.

Têm a presença de alguns estrangeiros, principalmente italiana, aos montes, que vem, gosta e fica, depois da vizinha cabo-verdiana que conheceu na Itália a ter convidado para conhecer o país, um arquipélago de dez ilhas, nove habitadas, com praias maravilhosas, areias terapêuticas, montanhas misteriosas, boa música, gente bonita e romarias.
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3. São Pedro e São Pedrinho são homenageados regularmente todos os anos, com tambores, corridas de cavalos, jogos e o “kolá”. Jovens, em duas filhas, embatem-se com as coxas, homens com as pernas quase fechadas, mulheres com as suas abertas, em movimento de cópula, de vez enquanto soltam uns gritos destoantes entoando frases das quais se entendem apenas algumas palavras, obscenas.

Por Abenaa.

1 comentário:

  1. Obrigado por falar de mim, falar do meu coração, falar da ilha de S. Nicolau.
    Distante entre águas do mesmo arquipélago, mas uma vontade de lá estar que perpetua.
    S. Nicolau uma benção real, uma luz, uma dádiva pouco conhecida mas presente nos olhos e corações dos amantes. Jimmy Brito, jimmysom@hotmail.com

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