domingo, 14 de novembro de 2010

Morte de uma mulher negra

Embora lutando com a realidade de um ser humano, em vez de um mito, a mulher negra forte morreu. Autoridades médicas dizem que ela morreu de causas naturais, mas aqueles que a conheceram sabem:

Ela morreu por ficar em silêncio quando ela deveria ter gritado. De ter sorrido, quando ela deveria ter sido violenta. De estar doente e esconder, não querendo que ninguém soubesse, porque sua dor poderia incomodar os senhores e as senhoras.

Ela morreu de uma overdose de outra gente se agarrando a ela quando ela mesma não tinha sequer energia para si mesma.

Ela morreu de amor por homens que não a amam por só amarem a si mesmos e só poderem oferecer-lhes visitas furtivas na calada da noite.

Ela morreu de criar os filhos sozinha.

Ela morreu vítima das mentiras que sua avó contou à sua mãe e sua mãe lhe contou sobre a vida, homens e racismo ...

Ela morreu por ter sido abusada sexualmente quando criança e ter que tomar como natural essa verdade em todos os lugares que ela ia todos os dias da sua vida, barganhando a humilhação, pela culpa.

Ela morreu asfixiada, cuspindo o sangue dos segredos que ela continuava tentando queimar no seu coração, ao invés de se permitir ao tipo de colapso nervoso ao qual ela tinha direito, mas que reservado pelo sistema apenas para as meninas brancas ou mais claras, pois só para essas o estabelecimento pode pagar.

Ela morreu por ser responsável, porque ela era o último degrau da escada e não havia ninguém para quem ela podese repassar.

A mulher negra forte está morta ..

Ela morreu de ser uma mãe aos 15 anos e uma avó de 30 e um antepassado longinquo aos 45.

Ela morreu de tanto ser arrastado para baixo e por sentar-se com irmãs supostamente mais evoluídas posando como irmãs e amigas.

Ela morreu por tolerar um “seu Piedade”, apenas para ter um homem ao redor da casa.

Ela morreu de sacrificar-se por tudo e todos quando o que ela realmente queria era ser uma cantora, uma dançarina, uma professora, ou algo assim, igualmente magnífico.

Ela morreu de mentiras de omissão, porque ela não quis trazer o negro para baixo.

Ela morreu de homenagens de seus colegas que deveriam ter combinado seus esforços no foco da realidade dos guêtos, em vez de tomar a sua imagem e transformar em proselitismo rico em palavras mortas e canções vazias.

Ela morreu dos mitos que não lhe permitia mostrar fraqueza, sem ser castigada como preguiçosa e vadia....

Ela morreu de esconder seus verdadeiros sentimentos, até que tornou-se dura e amarga o suficiente para inundar seus seios, como os tumores e as ulcerações da raiva.

Ela morreu de sempre carregar coisas pesadas,entre caixas de geladeiras sozinha.

A forte mulher negra está morta ..

Ela morreu de nunca ser o bastante do que os homens queriam, ou sendo demais para os homens que ela queria.

Ela morreu por ser muito preta e morreu novamente por não ser suficientemente negra.

Ela morreu por ser mal informada sobre a sua mente, seu corpo e da medida de suas capacidades reais.

Ela morreu de joelhos pressionados ao solo, porque respeito nunca fez parte do que lhe estava sendo empurrado.

Ela morreu de solidão nas salas de parto e solidão nos centros clandestinos de aborto.

Ela morreu nos banheiros com as veias abertas, rebentada pelo auto-ódio, ajudada pela negligência.

E às vezes quando ela se recusou a morrer, quando ela simplesmente se recusou a se dar por morta, ela foi assasinada por imagens brancas de cabelos loiros, olhos azuis e bundas achatadas, importadas diretamente da mídia para a “inclusão social” dos novos ricos dos pagodes ou do futebol.

Às vezes, ela foi pisoteada até a morte pelo racismo e sexismo, executada pela ignorância high-tech, enquanto levava a família em sua barriga, a comunidade em sua cabeça, e a raça nas costas!

A mulher negra forte está morta!

... ... ou não?

Esta mensagem foi enviada pelo Dr. Runoko Rashid, em inglês, e traduzida pelo brasileiro Adelson Brito no blog O Negro Liberto.

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