Embora lutando com a realidade de um ser humano, em vez de um mito, a mulher negra forte morreu. Autoridades médicas dizem que ela morreu de causas naturais, mas aqueles que a conheceram sabem:
Ela morreu por ficar em silêncio quando ela deveria ter gritado. De ter sorrido, quando ela deveria ter sido violenta. De estar doente e esconder, não querendo que ninguém soubesse, porque sua dor poderia incomodar os senhores e as senhoras.
Ela morreu de uma overdose de outra gente se agarrando a ela quando ela mesma não tinha sequer energia para si mesma.
Ela morreu de amor por homens que não a amam por só amarem a si mesmos e só poderem oferecer-lhes visitas furtivas na calada da noite.
Ela morreu de criar os filhos sozinha.
Ela morreu vítima das mentiras que sua avó contou à sua mãe e sua mãe lhe contou sobre a vida, homens e racismo ...
Ela morreu por ter sido abusada sexualmente quando criança e ter que tomar como natural essa verdade em todos os lugares que ela ia todos os dias da sua vida, barganhando a humilhação, pela culpa.
Ela morreu asfixiada, cuspindo o sangue dos segredos que ela continuava tentando queimar no seu coração, ao invés de se permitir ao tipo de colapso nervoso ao qual ela tinha direito, mas que reservado pelo sistema apenas para as meninas brancas ou mais claras, pois só para essas o estabelecimento pode pagar.
Ela morreu por ser responsável, porque ela era o último degrau da escada e não havia ninguém para quem ela podese repassar.
A mulher negra forte está morta ..
Ela morreu de ser uma mãe aos 15 anos e uma avó de 30 e um antepassado longinquo aos 45.
Ela morreu de tanto ser arrastado para baixo e por sentar-se com irmãs supostamente mais evoluídas posando como irmãs e amigas.
Ela morreu por tolerar um “seu Piedade”, apenas para ter um homem ao redor da casa.
Ela morreu de sacrificar-se por tudo e todos quando o que ela realmente queria era ser uma cantora, uma dançarina, uma professora, ou algo assim, igualmente magnífico.
Ela morreu de mentiras de omissão, porque ela não quis trazer o negro para baixo.
Ela morreu de homenagens de seus colegas que deveriam ter combinado seus esforços no foco da realidade dos guêtos, em vez de tomar a sua imagem e transformar em proselitismo rico em palavras mortas e canções vazias.
Ela morreu dos mitos que não lhe permitia mostrar fraqueza, sem ser castigada como preguiçosa e vadia....
Ela morreu de esconder seus verdadeiros sentimentos, até que tornou-se dura e amarga o suficiente para inundar seus seios, como os tumores e as ulcerações da raiva.
Ela morreu de sempre carregar coisas pesadas,entre caixas de geladeiras sozinha.
A forte mulher negra está morta ..
Ela morreu de nunca ser o bastante do que os homens queriam, ou sendo demais para os homens que ela queria.
Ela morreu por ser muito preta e morreu novamente por não ser suficientemente negra.
Ela morreu por ser mal informada sobre a sua mente, seu corpo e da medida de suas capacidades reais.
Ela morreu de joelhos pressionados ao solo, porque respeito nunca fez parte do que lhe estava sendo empurrado.
Ela morreu de solidão nas salas de parto e solidão nos centros clandestinos de aborto.
Ela morreu nos banheiros com as veias abertas, rebentada pelo auto-ódio, ajudada pela negligência.
E às vezes quando ela se recusou a morrer, quando ela simplesmente se recusou a se dar por morta, ela foi assasinada por imagens brancas de cabelos loiros, olhos azuis e bundas achatadas, importadas diretamente da mídia para a “inclusão social” dos novos ricos dos pagodes ou do futebol.
Às vezes, ela foi pisoteada até a morte pelo racismo e sexismo, executada pela ignorância high-tech, enquanto levava a família em sua barriga, a comunidade em sua cabeça, e a raça nas costas!
A mulher negra forte está morta!
... ... ou não?
Esta mensagem foi enviada pelo Dr. Runoko Rashid, em inglês, e traduzida pelo brasileiro Adelson Brito no blog O Negro Liberto.
domingo, 14 de novembro de 2010
sábado, 13 de novembro de 2010
A Todas as Mulheres Negras, de todos os Homens Negros
Rainha-Mãe-Filha da África
Irmã de minha alma
Noiva Negra da Minha Paixão
Meu Amor Eterno
Eu te saúdo, minha Rainha, não com a lamúria servil de um Escravo submisso à qual já te acostumaste, nem com a nova voz, as súplicas oleosas da lustrosa Burguesia Negra, nem com os gritos cruéis do grosseiro Escravo Livre – mas com minha própria voz, a voz do Homem Negro. E embora te saúde de outra maneira, minha saudação não é nova, mas tão velha quanto o Sol, a Lua e as Estrelas. E, ao invés de marcar um novo princípio, significa apenas a minha Volta.
Eu regressei dos mortos. E te falo neste momento do Aqui e Agora. Eu estava morto há quatrocentos anos. Durante quatrocentos anos tu tens sido uma mulher solitária, despojada do teu homem, uma mulher sem homem. Durante quatrocentos anos não fui nem teu homem nem meu próprio homem. O homem branco ficou entre nós, sobre nós, à nossa volta. O homem branco foi o teu homem e o meu homem.
Não te esqueças desta verdade, minha Rainha, pois mesmo que ela tenha incendiado a medula de nossos ossos e diluído nosso sangue, precisamos trazê-la à superfície da mente, ao domínio do conhecimento, fixando nosso olhar sobre ela como uma serpente enroscada nas barras do cercado de brincar de um bebê, ou como as flores frescas sobre o túmulo de uma mãe. Ela deve ser pesada e compreendida no coração, pois o salto da bota do homem branco é o nosso ponto de partida, nosso ponto de Decisão e Volta – o pivô salpicado de sangue do nosso futuro. (Mas eu te pediria para lembrar que, antes que pudéssemos sair da escravidão, tivemos de ser derrubados do nosso trono.)
Do outro lado do abismo estéril da masculinidade negada, de quatro centenas de anos sem minhas Bolas, vemo-nos hoje face a face, minha Rainha. Sinto uma profunda e horrível ferida, a dor da humilhação do guerreiro vencido. A vergonha do corredor exímio que tropeça na partida. Não tenho justificações.
Não posso suportar olhar os teus olhos. Tu não sabes (e certamente deve ter percebido gora: quatrocentos anos!) que durante quatrocentos anos fui incapaz de olhar diretamente os teus olhos? Estremeço por dentro sempre que me olhas. Posso sentir... no brilho dos teus olhos, de um lugar escondido bem lá no fundo, um segredo que guardas há muito tempo. Esta é a simples verdade. Não que eu me sentisse justificado, em tais circunstâncias, em tomar tais liberdades contigo, mas quero que saibas que eu tinha medo de olhar nos teus olhos porque sabia que ali encontraria refletida a Denúncia impiedosa da minha impotência e o irresistível desafio de reaver minha masculinidade conquistada.
Minha Rainha, é difícil para mim dizer-te o que hoje sinto no coração por ti – o que está no coração de todos os meus irmãos negros e de todas as tuas irmãs negras. E tenho medo de fracassar, a não ser que venhas a mim, sintonize-te em mim com a antena do teu amor, o amor sagrado em grau extremo que tu não me pudeste dar porque eu, estando morto, não mereceria recebê-lo; aquele amor de negro, perfeito e radical, com o qual nossos pais floresceram.
Deixa-me beber da fonte do rio do teu amor, deixa as cordas da força do teu amor amarrarem minha alma e cicatrizar as feridas da minha Castração, deixa meu exílio convexo terminar sua Odisséia assombrada na tua essência côncava, que recebe aquilo que pode dar. Flor da África, somente através do poder libertador do teu novo amor é que a minha masculinidade poderá ser resgatada. Pois é nos teus olhos, diante de ti, que minha necessidade deve ser justificada. Só, só, só tu e somente tu podes condenar-me ou deixar-me em liberdade.
Convence-te, Irmã Negra, que o passado não é um panorama proibido, algo para o qual não ousamos olhar com medo de sermos, como a esposa de Loth, transformados em estátuas de sal. Pelo contrário, o passado é um espelho onisciente: contemplamo-lo e nele vemos refletidos nós próprios e todos os outros – o que fomos, o que somos hoje, como ficamos desta maneira e o que estamos nos tornando. Negar-se a olhar para o Espelho do Antes, meu coração, é recusar contemplar a face do Agora.
Eu vivi a sétima vida do gato, encarei Satã e virei as costas a Deus, jantei no chiqueiro dos Porcos, e desci ao ponto mais profundo do Buraco, entrando no Covil e apanhando minhas Bolas de entre os dentes de um leão a rugir!
Beleza Negra, em silêncio impotente eu ouvi, como se fora uma sinfonia de lamentações, os teus gritos de socorro, os apelos angustiados e cheios de pavor que ainda ecoam em todo o Universo e por toda a mente, um milhão de gritos dispersos através dos anos de dor que se fundiram num único som de sofrimento para assombrar e sangrar a alma, um som incandescente para queimar o cérebro e ascender o estopim do pensamento, um som de presas e dentes para comer o coração, um som de fogo se alastrando, um som de gelo que queima, um som de chamas que devoram, um som ardente, um som de fogo para derreter o aço das minhas Bolas. Um som de Fogo Azul, um som Melancólico, um som de morte, um som da minha mulher em pranto, um som do sofrimento da minha mulher,O SOM DA MINHA MULHER CHAMANDO-ME, CHAMANDO-ME, EU OUVI O TEU GRITO DE SOCORRO, OUVI AQUELE SOM AFLITO MAS ABAIXEI A CABEÇA E NÃO DEI ATENÇÃO, OUVI O CHORO DA MINHA MULHER, OUVI O GRITO DA MINHA MULHER, OUVI MINHA MULHER IMPLORAR A PIEDADE DA BESTA POR MIM, OUVI-A IMPLORAR POR MIM, OUVI MINHA MULHER IMPLORAR A PIEDADE DA BESTA POR MIM, OUVI MINHA MULHER MORRER, OUVI O SOM DA TUA MORTE, UM SOM DE ESTALIDO, UM SOM QUEBRADO, UM SOM QUE SOAVA O FINAL, O ÚLTIMO SOM, O DERRADEIRO SOM, O SOM DA MORTE, EU, EU OUVI, EU O OUÇO TODOS OS DIAS, EU O OUÇO AGORA... EU TE OUÇO AGORA... EU TE OUÇO AGORA... EU TE OUÇO... Eu te ouvi então... o grito veio como um raio fulminante deixando um risco nas minhas costas negras. Num estupor covarde, com o coração palpitando e os joelhos tremendo, vi o chicote da morte do Escravizador cortar zunindo o ar e morder com dentes de fogo a sua carne delicada, a carne negra e macia das Mães Africanas, forçando a Vida a sair prematuramente do seu útero dilacerado e ultrajado, o útero sagrado que originou o primeiro homem, o útero que incubou a Etiópia, populou a Núbia e deu à luz os Faraós do Egito, o útero que pintou de preto o Congo e originou o Zulu, o útero de Méris, o útero do Nilo, do Níger, o útero de Songhay, do Mali, de Gana, o útero que senti o poder de Chaka antes de ele ter visto o Sul, o útero Sagrado, o útero que conheceu a forma futura de Jomo Kenyatta, o útero dos Maus-Maus, o útero dos Negros, o útero que nutriu Toussaint L’Ouverture, que aqueceu Nat Turner, Gabriel Prosser e Denmark Vesey, o útero negro que se entregou em lágrimas àquela corrente anônima e interminável da Nata da África, a Nata Negra da Terra, aquela corrente anônima e interminável que com fortes gemidos caiu no esquecimento do grande abismo, o útero que recebeu, alimentou e sustentou firme a semente e devolveu Sojourner Truth, a Irmã Tubman, Rosa Pparks, Bird e Richard Wright, e suas outras obras de arte que usaram e usam nomes tais como Marcus Garvey, DuBois, Kwane Nkrumah, Paul Robeson, Malcolm X e Robert Williams, e aquele que tu suportaste com sofrimento e que se chamou Elijah Muhammad, mas, acima de tudo, todos aqueles anônimos que eles te arrancaram do útero numa inundação de sangue de assassinatos que se espalhou e se infiltrou na lama. E Patrice Lumumba, Emmet Till e Mack Parker.
Oh, Minha Alma! Tornei-me um covarde lamuriento, um desgraçado medroso, um bajulador vil, com o meu desejo de oposição petrificada diante do temor cósmico do Senhor dos Escravos. Ao invés de instigar os Escravos à rebelião com uma oratória eloqüente, suavizei suas feridas e cantei com eloqüência o Blues. Ao invés de atirar minha vida cheia de desprezo na cara do meu Algoz, derramei o nosso precioso sangue! Quando Nat Turner procurou libertar-me do meu temor, esse mesmo Temor entregou-o ao Carniceiro – um monumento martirizado à minha Emasculação. Meu espírito era sem vontade; e minha carne, fraca. Ah, eterna ignomínia!
Eu, o Eunuco Negro, despojado de minhas Bolas, caminhei pela terra com a mente trancada num Frigorífico. Eu mataria um homem ou uma mulher negra mais rápido do que esmagaria uma mosca, enquanto colheria para o homem branco milhares de quilos de algodão por dia. Qual o lucro dos esforços cegos e exaltados dos (Culpados!) Eunucos Negros (Justiceiros!) que escondem suas feridas e menosprezam a verdade para mitigar sua culpabilidade através do pálido sofisma de postular uma Democracia Universal de Covardes, assinalando que na história ninguém pode esconder-se, que, se não numa época, então certamente em outra, o salto de ferro do Conquistador esmagou na lama as Bolas de Todos?
Memórias do ontem não mitigarão as torrentes de sangue que vertem hoje dos meus culhões. Sim, a História lembra um texto escarlate, com seus rabiscos e pontinhos impressos em vermelho com sangue humano. Mais exércitos do que os mostrados nos livros fincaram bandeiras em solo estrangeiro deixando a Castração no seu rastro. Mas nenhum escravo deve morrer de morte natural. Existe um ponto onde a Cautela termina e a Covardia principia. Enfiem-me uma bala no cérebro com a arma do opressor numa noite de sítio. Por que há dança e cantoria nos Bairros Escravos? Um Escravo que morre por causas naturais não pode se comparar a duas moscas mortas na Escala da Eternidade. Ao invés de ser pranteado, merece piedade.
A mulher negra, sem perguntar como, diz apenas que sobrevivemos à nossa marcha e trabalhamos forçados através do Vale da Escravidão, do Sofrimento e da Morte – ali, naquele Vale escondido bem abaixo de nós por uma névoa que se esvai. Ah, que visões, sons e sofrimentos estão por trás daquela névoa! E pensávamos que a dura escalada daquele vale cruel levava a algum lugar agradável, verde, pacífico e ensolarado! Mas aqui tudo é selva, uma região selvagem e bravia que transborda em ruínas.
Mas coloca tua coroa, Minha Rainha, e construiremos uma Nova Cidade sobre estas ruínas.
Eldridge Cleaver, ex-ministro da Informação dos Panteras Negras e fundador da sua sede internacional, se desentendeu com Huey Newton, em 1971, segundo kathleen Cleaver, sua ex-mulher, devido às interferências das forças de inteligência dos EUA, que infiltrou na organização para fomentar inimizades e, assim, destrui-la.
Por Abeba Makeda
terça-feira, 2 de novembro de 2010
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
O Drama de Sudão
Há quem ache o movimento das nuvens apenas um processo normal (natural) da ordem universal, sem perceber os seus maravilhosos fluxos e significados. Quem ache, com base no tamanho do próprio cerébro, que é superior, melhor que o outro, suficientemente para subjugá-lo, desculturá-lo depois aculturá-lo, e tentar exterminá-lo. Há quem ache que não houve genocídio em Sudão, que tudo não passa de mero sensacionalismo jornalístico.
Genocídio, depois de 1944, vem sendo definido como a destruição deliberada e metódica de pessoas determinada por diferenças raciais, religiosas, políticas. O professor Molefi Kete Asante defende que “não pode haver desculpa para a escravidão e o genocídio”, sendo ambos “moralmente indefensáveis, brutalmente monstruosos e eticamente repugnantes” (in “Genocide in Sudan”). Em 1991, quando escreveu este artigo, Asante considerou que em Sudão o nacionalismo reivindica uma base biológica para a perseguição, opressão, exploração e escravização de outros, sucedendo a escravização de africanos pelos próprios africanos.
Em sudão unifica-se o famoso Rio Nilo, até o Egipto, vivendo a maioria da população, sobretudo os Shilluk nas suas margens, praticando o cultivo da terra e a agricultura, já que o resto do país é demasiado seca.
Os primeiros povos (Dinka, Jhaynah e outros dentre 500), que habitaram esta parte do continente africano/Alkebulan, eram principalmente constituídos de pastores nómadas que andam com os rebanhos em busca de novos pastos (o que igualmente revela o nível elevado de consciência), mas a “guerra santa” destruiu também as pastagens e rotas de pastoreio.
Desde a antiguidade o Sudão (palavra árabe usada primeiramente pelos geógrafos muçulmanos ao descreverem “a terra dos negros”) foi uma terra de confluência racial, sobretudo depois da queda de Núbia e da chegada dos árabes. Foi a primeira região que os árabes entraram em contacto e onde é grande a influência islâmica. A área divide-se em 3 partes: o Sudão ocidental (interior do Senegal e os rios do Alto Níger); o Sudão central (a leste do último); e o Sudão egípcio (do sul do Egipto). O Sudão egípcio foi conquistado pelo Egipto no século XIX, antes de ser novamente separada e reconquistada como “Sudão anglo-egípcio”. Hoje é o maior estado africano, a república do Sudão.
A fronteira actual entre o Egipto e o Sudão não existia. O Egipto do Sul e a parte norte do Sudão eram conhecidos em conjunto como a Núbia. Subsiste, no entanto, um grande contraste entre o norte e o resto do país. O norte é maioritariamente muçulmano, de língua árabe, o Centro e o Sul expressa línguas e crenças africanas. Os africanos residentes no norte foram convertidos ao islamismo e relacionam-se com o Egipto e o mundo árabe e o restante é na maior parte animista e liga-se ao mundo africano (diferem em relação à língua, formação, cultura e religião). Conflitos entre os dois grupos, assim como sucedeu em Ruanda, resultaram mais de duas décadas de guerra civil.
Desde a independência do país, em 1956, o governo sudanês impõe o islamismo à população. O prof. Molefi diz que “inerente à configuração política da nação foram as sementes da sua própria destruição: o fundamentalismo religioso islâmico e animosidade étnica” fecundadas “por uma da mais severa crise de identidade em toda a África” resultando mortes incomensuráveis, órfãos, refugiados, pobreza. A população residente no Sul do país, de culto e expressão africanos, foram forçados a dirigir-se para Kartum, a capital de Sudão, vivendo agora em bairros de lata nos seus arredores. O prof. Molefi também estima que “o Sudão é um país em crise permanente, pois é uma nação de pessoas totalmente deslocadas de um senso de realismo histórico”.
Assim, o século XIX no Sudão foi de jihads, guerras santas destinadas à propagação do islã e à criação de estados islâmicos. A partir do século XI predomina a vontade de impor o islã por todos os meios e a todos os níveis da vida social. O islã manteve, até o século XI relações de coexistência com as religiões locais africanas largamente dominantes no duplo plano de número dos adeptos e dos efeitos sociais e políticos. Igualmente, no século XI, as relações do islã com as religiões antigas, sobretudo as práticas e costumes locais mudaram quando a aceitação do compromisso e da coexistência cedeu lugar à vontade de impor o islã.
Houve por todo o lado uma vontade de uniformização dos modos de vida, de maneira a torná-los estritamente conformes com os preceitos, a lei e o direito do islã: adopção quase generalizada de nomes muçulmanos, transformação das regras de filiação e de herança, com a desaparição progressiva das regras matrilineares em proveito dos mecanismos da patrilinearidade; homogeneização dos gostos e dos hábitos alimentares na sequência da condenação de certas práticas e da promoção de outros comportamentos, importados ou adaptados de Magreb; mimetismo vestimentar; codificação estrita da condição e dos géneros de vida das mulheres, necessidade para as elites, no caso de quererem ser levadas a sério pelos seus interlocutores árabes, de mostrar que estavam perfeitamente informadas a respeito das teorias e dos debates do momento. O direito muçulmano era solicitado não só para justificar a exclusão dos ditos infiéis da posse da terra, mas também para regularizar os antagonismos crescentes entre os próprios muçulmanos.
Africanos islamizados, roubados da sua tradição africana, afligiram o povo africano, afugentando-o do próprio terreno e comunidade/família, legando-o campos de refugiados, sem nenhuma condição de sobrevivência. Hoje, Inúmeras crianças formam os órfãos do drama em Darfur, as mulheres vítimas de agressões sexuais e os homens estão quase todos mortos ou mutilados.
Entretanto, seguidamente à fragmentação do continente africano, às invasões (motivadas, sobretudo pelo ouro sudanês (petróleo), às longas lutas e conquistas libertadores, ainda, resta aos Alkebulanos o papel de resgatar a tradição africana ancestral, sua identidade, e salvaguardar, para a posteridade, a sua sagrada cultura. O professor Asante, no artigo “The Future of African Gods. The Clash of Civilizations” pede-nos para observar o seguinte: “Show me the gods we africans workship and i will show the extent of our moral and ethical decay”. Concluindo que os africanos esqueceram a sua tradição/memória e aceitaram os deuses daqueles que os escravizaram e colonizaram, por isso actualmente se encontra num estado de Maafa.
Veja o filme “Areias e Lágrimas”.
Abenaa.
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