Nossa mãe-rainha.
Outrora grandes Candaces (mães-rainhas), criadoras, governantes, conselheiras, protectoras, divindades, guerreiras, companheiras. Desde o princípio a mulher sempre esteve Pre-sente. Contribuiu, juntamente com o homem, no percurso normal do Un-I-Verso, de forma recíproca. É a fundadora e a primeira educadora da humanidade. Recebe a Vida, lhe alimenta, cria e apresenta ao mundo, à sociedade.
No início eram a mulher e o homen, “Carne da minha Carne e Ossos dos meus Ossos” - Umoja. Por isso, adulto “o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam UMA só pessoa” (in bíblia sagrada).
«A mulher é o repositório da civilização, a guardiã dos segredos da sociedade, mãe de deuses, a manifestação de um princípio universal “feminino” que viu o universo, a terra e o subconsciente como o “útero” para a expressão da vontade Divina».[1]
Podemos citar a Candace Tyie, “a moda é profundamente influenciada por ela. Seu estilo de cabelo, seus brincos, ... dita a beleza feminina na corte real.”[2]
Governou como cônjuge rainha e mãe rainha de Egipto por metade de um século, antes de Cleopatra e Nefertiti. Foi a Candace nubia (terra de ouro) de egipto, Grande Esposa Real de Amen-hotep III, que disse ser ela «a rainha, a mais estimada, a esposa de graça, delicada em seu amor, quem preencheu o palácio com a sua beleza, a Regente de Norte e Sul, a Grande Mulher Rainha do Rei que a ama, a senhora de ambas as terras».
Mãe, por imposição legal, de Candace Nefertiti, que era casada com Akhen-aton, o mais velho dos seus sete filhos. Quando tinha quase 50 anos trouxe ao mundo o seu último filho, Tut-ankh-amen.
Nefertiri, foi uma outra grande Candace: a Rainha duma Missão Sagrada. No seu Tempo a mulher não era principal, que profetizava ou participava nas políticas sociais, mas objecto de sensualidade ou para ser usada pelos homens. Regista o Código de Hamurabi (fonte das actuais legislações) a época que havia o Tirhato, o preço da mulher para transações afectivas. O esposo comprava a sua mulher e podia fazer dela o que quisesse. Tornar a mulher um valor de troca, fazê-la assim sentir, foi empiricamente determinado por psicólogos antigos que pretendiam eliminar o ar de superioridade do nariz da mulher.
Entretanto, Amun-hotep IV (posteriormente, Akhenaton) escolheu a Nefertiri para ser a sua grande rainha mulher, a fundação da sua família. Ela que foi a mulher mais estimada daquele tempo. Principalmente porque não tencionava perpetuar a antiga ordem. Não quis relegar-se a norma tradicional de rainha servil.
Ela visionava um papel activo para ela na remodelação da civilização. Então, numa época de intensos conflitos no Egipto contra o domínio do clero sobre a sociedade, Nefertiri e Ankhenaton decidiram construir uma nova cidade, Akhetaten. “Uma cidade onde a arte pode florescer, onde homem/mulher querem representar a beleza, paz e felicidade”. Nesta cidade, puderam dar nascimento à sua sagrada missão: a missão à procura da Vida Divina, durante a qual tiveram seis filhas.
Como Isis, Nefertiri fez o que pode para manter o domínio de Ma´at (mulher rainha da Ordem, Equilíbrio, Equidade, Verdade, Justiça, rectidão).
E a Isis é a nossa «original madonna (Virgem) negra, a senhora dos milhares de títulos, a Grande Feiteceira, Senhora do Paraíso, sensibilidade feminina, Amor de Irmã, Senhora da Magia, Senhora da Luz, Aposento-de-Nascimento-de-um-Deus, Senhora do Nascer do Sol, A Bela e a Amada, Senhora da Abundância, Rainha Abelha: Fazedora de Mel, Aquela que Chora...» e abunda o Vale de Nilo.
Em períodos mais recentes já sobressaem as grandes rainhas guerreiras africanas como a Grande Rainha Hatshepsut, uma das primeiras rainha-guerreira da história africana, que proclamou-se Pharaoh de Egypto e bem a governou por, dissem, 21 anos.
Também quando a Ethiopia era o centro do mundo, antes da Europa emergir, era governada por uma rainha, Candace Makeda, a Rainha de Sheba. Dissem-nos que a sua luta foi mais diplomacia do que militar, ao contrário do que foi para a Hatshepsut.
Em Angola, outrora Ngoli Nbondi, havia a poderosa Nzinga que fortemente lutou contra o colonialismo português. Quando os portugueses desembarcaram, ela tentou negociar (conversar) com eles, mas quando percebeu que eles pretendiam apenas roubá-los, assimilá-los, desculturá-los e aculturá-los, em detrimento da sua própria cultura africana, organizou o exército e liderou-lhe numa luta armada contra tal colonialismo.
Grande defensora da independência e Liberdade do seu país, ela dizia “mais valia a morte de arco e lança na mão, sim senhor, que a vida, mesmo de mil anos, servindo. A vida de escravo.” (Leia mais neste blog sobre: Nzinga Mbandi Ngola. Meio caminho não andaram: uma carta).
Na resistência ao comércio de escravos e o sistema colonial, mulheres africanas, ao lado dos seus companheiros ou maridos, ajudaram a montar ofensivas por todo o continente africano: Empress Menem e Titul Bitul de Ethiopia, Tinubu de Nigéria; Nadi, a mãe do grande guerreiro Chaka; Kaipkire do povo Herrero de sudoeste de África; e o exército feminino que seguiu o grande rei daomeano, Behanzin Bowele.
A Yaa Asantewa, mãe rainha de Ejisu, que foi expatriada por ter inspirado a guerra do povo Ashanti – a denominada Guerra Yaa Asantewa – contra os britânicos que mantinham exilado o seu rei Prempeh para conseguirem o Banco Dourado, a arca de aliança deste povo.
A Harriet Tubman, grande condutora de Underground Railroad, que levou à liberdade vários escravos nos Estados Unidos da América, e outras grandes mulheres africanas da actualidade (dentro e fora do continente), fundadoras e educadoras das suas famílias, companheiras, grandes líderes e governantes, que permanecem perseverantes na luta pela liberdade, igualdade, justiça.
A mulher tinha (e ainda tem) um valor (não de troca para transações afectivas) e sabia disso, conhecia o Segredo da Vida e respeitava-a, não havia necessidade de preocupar-se com a afirmação. No entanto, a mulher de hoje co-habita mais o homem num círculo activo de agressões (verbal, física e espiritual). Sendo poucas aquelas que queixam-se ou libertam-se deste ambiente ambivalente e inúmeras as que suportam a dor conforme podem (Leia “Foram as dores que o mataram”, em Mornas as Noites de Dina Salústio,).
É unânime que a Educação (principalmente a educação-alternativa) é o principal remédio para a resolução efectiva desta problemática denominada “violência baseada no Género” ou, concretamente, “Violência Doméstica”. Uma situação, condição ou factor crescente de corrompimento da raiz da família, que reduz caoticamente a actuação positiva da mulher na sociedade como fundadora e educadora da família, ao invés, constitue famílias desiquilibradas e desestruturadas, uma plêiade de jovens com mentes transtornados, assim, de efeito espiral.
Presentemente, a luta permanente da mulher africana tem sido resgatar o seu valor e dignidade ancestral e não apenas a Igualdade e Equidade de Género. Ela pretende alcançar um estado de igualdade com o homem, mas, permitam-nos dizê-lo, claro sem generalizar, tem o feito de forma equivocada, sem antes procurar o ontem, no passado. Sem antes identificar ou conhecer o que fora. Aí, ela vem mudando e ensinando comportamentos, faz trabalhos pesados como carregar penedos, é novamente chefe, porém prossegue desconhecendo o seu Real Valor.
Analiticamente, em relação à mulher Rainha e guerreira de Nubia, Egypto, Ethiopia, Angola, Gana, Nigéria, Daomé, nota-se que hoje ela reflecte, mesmo inconscientemente, os hábitos e aspirações da mulher européia, principalmente da antiga Grécia e Roma, em constante repressão à acção da sua verdadeira identidade.
Interessa à mulher africana actual, rainha e guerreira, ser e estar em equilíbrio e harmonia com a Vida em total respeito à Ordem das coisas. Ela precisa regressar ao seu útero (nascer de novo) e destruir este sistema anacrónico que lhe atribue apenas um valor pecuniário, a condição de simples propriedade privada (“pikena”).
Neste mês de Março, considerado da Mulher e principalmente a Mulher Africana, honramos todas as nossas grandes mulheres mães, rainhas e guerreiras.
Ababa Abenaa.
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