segunda-feira, 8 de março de 2010

... A MULHER IDEAL ...

Amando como um louco, em busca da ventura,
procuro em vão no mundo uma mulher ideal!
Por cada amor que tive, uma mulher fatal
surgiu na minha estrada, e trouxe-me amargura!

Por cada amor que tive – um sonho meu desfeito,
um sonho encantador, que abraço com paixão!
Sonhar que se desfaz em cálida ilusão,
que abruma, sangra, fere e abandona meu peito!

Por cada vez que amei, imaginei um anjo,
uma mulher divina, altiva e caprichosa!
A flor do meu jardim, a perfumada Rosa,
um ente celestial mais puro que um arcanjo!

Por cada vez que amei, minha rosa sonhadora
sonhou prazer, ventura e um mundo delicioso ...
Viu tudo côr de rosa, ameno e fulgoroso,
E, ao fim, quedou-se triste, aflita e sofredora!

Por cada amor que tive, a minha lira pobre,
entusiasmada e alegre, o meu amor cantou.
A flor por mim amada, ao píncaro elevou
da pura adoração, da santidade nobre!

Desiludida, ao fim, em voz triste e pungente,
a lira que cantara, a minha dor chorou!
Em verso doloroso, amargo, ele cantou
meu mal, minha ilusão, a sina dum sofrente!

Por cada amor que tive, eu tive uma ilusão,
um sonho de inocente, um dia de amargura!
Ferido pela dor, em vez de ter ventura,
recolhe-se a chorar meu pobre coração!

Meu peito desdenhado em busca dum amparo,
volúvel se tornou, amando dia a dia!
Procuro, em vão no mundo, o amor, uma alegria,
duma mulher celeste, um ente puro e raro!

Amando como um louco, em busca da ventura,
procuro em vão no mundo uma mulher ideal!
Porém, por cada amor, uma mulher fatal
encontro em minha via, e deixa-me amargura!


Abel Djassi (Amílcar Cabral)

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