segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A revolta de Ribeirão Manuel

A 12 de Fevereiro de 1910, Nha Ana Veiga lidera em Santa Catarina, na ilha de Santiago – Cabo Verde, a revolta de rendeiros de Ribeirão Manuel, que se recusaram a pagar as rendas aos “morgados” e passaram a colher, sem licença, sementes de purgueira nas suas propriedades.

A revolta de Rubon Manel, muito marcante entre outras revoltas, ocorreu um mês após a Proclamação da Re-pública em Portugal e a posse, na Cidade da Praia, do Governador Marinha de Campos. Ribeirão Manuel sobressai um contexto que a forma de exploração agrária agrava as estruturas de arrendamento em anos de intensa seca e de má colheita, reanimando as tensões entre os morgados e rendeiros.

Os proprietários rurais, estrangeiros feitos Morgados por cartas régias, com falta de escravos, que fugiam continuamente para o interior das ilhas de Cabo Verde, fixando-se em locais de difícil acesso, e de trabalhadores livres, foram forçados a parcelar as suas fazendas em pequenos tractos, dando-os de arrendamento, a dinheiro ou em regime de parceria, aos escravos alforriados, aos auto-libertados e aos libertos por imposição legal ou nascidos livres.

Estes rendeiros, que foram obrigados a servir de rendeiros e de parceiros, aliados às camadas mais desprotegidas, quando tomaram consciência da sua força e importância social, projectaram e executaram diversas rebeliões contra os grandes proprietários de terras, forçando-os a rever em parte as estipulações do contrato de arrendamento.

A ilha de Santiago, marcada pelo sistema de exploração de morgadios, regista a referida revolta que surge das apanhas de purgueira, planta muito rica utilizada na produção de óleo, sabão e que funcionava como moeda de troca no Ribeirão Manuel. Os terrenos de Riberão Manuel faziam parte do monopólio exclusivo dos morgados, pelo que as tropas da cavalaria, após queixa do morgado Aníbal dos Reis Borges contra algumas mulheres, alegando que estas teriam invadido a propriedade da irmã para roubar a purgueira, surpreendendo estas mulheres, as amarraram mesmo sob o protesto do povo.

Segundo relatos, o Padre António Duarte da Graça insurgiu-se contra a prisão deste pequeno grupo de mulheres que tinham colhido ilegalmente sementes de purgueira selvagem.

E o protesto do padre transformou-se numa revolta da população que, comandados por uma mulher, a Senhora Ana Veiga, organizou-se e decidiu libertar as suas mulheres, os homens de pedras e as mulheres de machados marcharam, sob o lema "Aqui não há negro, não há branco, não há rico, não há pobre... somos todos iguais!", em direcção à cadeia de Cruz Grande que acabou por ser aberta perante a sua determinação.

Assim, resulta o provérbio "Omi faka, mudjer matxadu, mininus tudu ta djunta pedra" (Homem faca, mulher machado, meninos ajuntam pedras).

Abeba

2 comentários:

  1. Caro Dalal ak Diam,

    tenho de vos felicitar por contarem as histórias importantes não só para as mulheres da vossa ilha, mas sobretudo para a libertação do povo, da escravatura, a luta pelos direitos e pela terra, a luta pela dignidade contra os grandes morgados.

    Tenho curiosidade sobre uma personagem da Revolta de 1910, Aníbal dos Reis Borges, é que estou a fazer uma pesquisa genealógica e tenho justamente um personagem desse nome, nascido em São Nicolau Tolentino, Praia, Cabo Verde em 1855 que não sei tratar-se da mesma pessoa. É que já vi noutros sites e existem mais pessoas com esse nome que viviam na altura, incluind outros com meias-irmãs chamadas Ana dos Reis Borges (a proprietária dos terrenos invadidos na altura). Será que me consegue indicar mais alguma informação sobre essa Aníbal, como por exemplo a sua filiação?

    Muito agradecido,

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