domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ayiti, a outrora “pérola das Antilhas”


“TODO Homem é UM Homem”.

“Os despertos pertencem a UM mundo, mas os adormecidos têm cada um mundo”.

Conhecida pelo primeiro povo, dito ameríndio, a 7.000 A.C., pelo nome de Quisqueya significando na língua Taíno “Mãe da Terra” e Haiti traduzindo “país montanhoso” ou "terra alta", mais tarde pelos criollos por Ayiti, é depois de Cuba, a segunda maior ilha caraíbas, ocupando a terça parte ocidental da ilha que partilha com a república Dominicana.

Em 1492, no decurso duma viagem de exploração para o ocidente, Cristo-vão Colombo chega a Quisqueya chamando-a de Hispaníola e os espanhóis logo fixaram fortalezas no litoral, desprezando a anterior presença humana. Ou seja, logo depois, colonizam a ilha, segundo eles com o fim de “promover a civilização dos ameríndios”, ocorrendo entretanto a escravização dos ameríndios para trabalharem na agricultura e cerâmica.

Em menos de 15 anos, a Espanha extraiu em Ayiti 15.000 mil toneladas de ouro. Depois de quase exterminar os ameríndios, em 1697, assina o Tratado de Ryswick e concede a parte ocidental da ilha, onde fica Ayiti, à França. Hispaníola passa a ser chamada pelos franceses de Saint Domingue (S. Domingos).

Quanto a França, por durante 100 anos, a "pérola das antilhas" alimentara o essencial do seu comércio internacional. O açúcar, café, algodão, índigo, a madeira, entre outros, enriqueciam os negociantes estrangeiros enquanto os africanos viviam como animais de tracção.

Durante todo o século XVIII os franceses incrementaram a formação da agricultura açucareira na região, importando cerca de 500.000 escravos africanos.

No entanto, torna-se frequentes revoltas de escravos. Em 1757, um escravo originário da Guiné, chamado Makandal, “o velho homem das montanhas”, assume o comando de um grupo de auto-libertos, utiliza as crenças do vodu e incita os negros a matar brancos através de veneno. Em 1758, é capturado, condenado à fogueira como feiticeiro e queimado vivo. Mas os negros continuaram a venerar Makandal como profeta e, desde então, todos os ritos usados por eles passaram a ser chamados de makandals. O carácter político do vodu tornou-se tão evidente que tudo se fez para impedir qualquer manifestação religiosa dos negros. Em consequência, os franceses e principalmente a Igreja Católica passaram a reprimir ferozmente o vodu. Padres manifestaram o desejo explícito de extirpar as crenças africanas no país. Em 1941 decretou-se uma campanha para fulminar o vodu, considerado “macaquice, indigna de povo civilizado”. Em 1860, o Ayti e o Vaticano assinam uma Concordata que conduz a punição criminal do vodu.

Acontece uma outra revolta contra a autoridade colonial francesa, em 1790, liderada pelo Vicente Ogé, que acabou preso e torturado. Contudo, a revolta aumenta e os escravos fugem em massa, precedendo a enorme revolta de escravos de Agosto de 1791.

A revolução aytiana foi sempre constante. Os africanos se rebelaram no momento da sua captura na África, nos navios e nas plantações. Boukmann, líder da revolta de escravos de Agosto de 1791 no Ayiti, era um escravo de campo importado da Jamaica, que deu sua vida num esforço para livrar o mundo da escravidão.

Boukmann presidiu uma reunião política em Bwa Kayiman para planejar o fim da escravidão no Ayiti, um evento que teve repercussão mundial, inspirando rebeliões na Carolina do Sul, Louisianna, Virgínia e nas Américas, levando ao fim da escravidão em todo o mundo jurídico.

Após esta reunião, a revolução entrou em erupção no norte do Ayiti, e se espalhou pela ilha toda. Um terço da população do Ayiti, homens, mulheres e crianças lutaram e morreram para o benefício das gerações futuras, queimando plantações e matando os proprietários e capatazes.

Essa revolução durou até 1804. Financiados pelos ingleses e espanhóis, inimigos dos franceses, negros e mulatos se unem sob a liderança do intelectual africano Toussaient-Louverture, descendente dos reis da Arada, filho de Gaou Guinou, um poderoso guerreiro, que através de lutas em África foi escravizado e embarcado para o Caribe, nasceu a 1 de Novembro, no Caribe, e cresceu para ser um nobre, médico, ervalista e curandeiro.

O general Louverture comanda a revolta de Boukmanns, que conduz a uma guerra de libertação prolongada de 13 anos contra os colonialistas de S. Domingos (hoje capital da República Dominicana) e depois, o exército de Napoleão.

A França declara a abolição da escravatura nas colônias. Toussaient prepara a independência do Ayiti, cuida da volta dos antigos escravos à lavoura do país quase devastado e prepara um projecto de constituição. Entretanto, o novo governo francês, sob o comando do cônsul Napoleão Bonaparte, rejeita a proposta de Toussaient e, valendo-se da traição, envia Toussaient para a França, onde morre prisioneiro, recuperando assim a antiga colónia. Porém, um dos generais de Toussaient, o Jean-Jacques Dessalines, organiza o exército, continua a rebelião e expulsa as tropas francesas, derrotando a França, e proclamando a primeira república negra do mundo, em 1 de Janeiro de 1804.

Adquirida a independência (reconhecida pela França somente em 1838), foi preciso não apenas curar as feridas mas também pagar à França em troca uma indemnização financeira de 150 milhões de francos.

A maioria das nações incluindo os Estados Unidos evitaram Ayiti por quase quarenta anos, temível que seu exemplo poderia agitar lá e em outros países escravocratas. Sobre as seguintes poucas décadas Ayiti é forçada a remover empréstimos de 70 milhões de francos para reembolsar a indemnização e para ganhar reconhecimento internacional.

O inimigo tinha destruído tudo antes de isolar completamente o país, colocando-lhe numa situação impossível com medo do contágio, ante, como referido, o pensamento de que toda a caraíba podia ser influenciada pelo mau exemplo. O país isolado pelas grandes potências ocidentais, obrigado a pagar a Paris o preço em ouro da independência, reduz-se a um estado desestabilizado.

Em 1862, os Estados Unidos finalmente concedem a Ayiti o reconhecimento diplomático enviando o notável abolicionista Frederick Douglass como seu ministro Consular. Depois de 53 anos, em 1915, os fuzileiros navais de Estados Unidos da América ocuparam o Ayiti e estabeleceram o controlo sobre as autoridades alfândegárias e portuárias, assumindo o governo, sob o pretexto de proteger os interesses norte-americanos no país, no entanto a fim de cobrar a dívida externa, reprimir o vodu, entre outros.

De 1915 a 1934 o Ayiti conheceu a mais terrível humilhação da sua história: a colonização americana. A independência duramente conquistada e zelosamente preservada até então, é posta em causa com o desembarque dos “marines” americanos. Sem dúvida, antes de 1915, as potências imperialistas européias, aliadas à burguesia do país já disputavam entre si o mercado aytiano. Mas a ocupação americana, que se fez sob os moldes de colonização directa, acabará por orientar e integrar as estruturas do país dentro do capitalismo monopolista. O Banco Nacional, o comércio, a administração e o Exército serão totalmente colocados sob controlo do imperialismo americano. Camponeses serão expropriados e condenados a trabalhos forçados.

Diante do racismo da ocupação americana, adversários desta ocupação, como Charle-magne Peralte, leva os camponeses da região de Artibonite à insurreição. A resistência camponesa aos ocupantes cresce sob a liderança de Charle-magne, que é traído e assassinado por fuzileiros navais em 1919.

Em 1946, uma rebelião popular derruba o presidente mulato Elie Lescot, levando ao poder o negro Dumarsais Estimé. Desde a considerada crise de 1946, que não chegou a ser uma revolução no país, proprietários de terra e pequenos burgueses negros agitaram a bandeira do nacionalismo por uma participação no poder económico e político até então controlada pela burguesia mulata.

Depois eleições controladas militarmente conduzem à vitória do François Duvalier (1954), que em 1964 declara a si mesmo presidente vitalício e instaura uma ditadura violenta baseada no terror dos tontons macoutes (os "bichos papões"). Durante 35 anos esta ditadura assume uma realidade de exploração, injustiças e crimes.

Expulsos pela brutalidade da máquina repressiva ou pelas estruturas de exploração, muitos ayitianos, os boat-people, fugiram em pequenos barcos para a Flórida/Estados Unidos da América, onde posteriormente foram presos e despachados para o território ayitiano, sem tecto, família nem emprego.

O Ayiti de 1986 a 1990 foi governado por uma série de governos provisórios. Em 16 de dezembro de 1990, Jean-Bertrand Aristide foi eleito e assume a presidência de Ayti, a 07 de Fevereiro, num contexto que segundo o próprio “o país era um depósito de lixo”, as ruas esburracadas, as favelas vulneravéis às chuvas tropicais, à penúria de água, ao calor, aos cheiros, à falta de higiene, às imundicíes, o desprezo, caos, à anarquia.
Comprometendo-se Aristide a realizar uma revolução social, afirmando que antes houve apenas uma independência nominal. Porém 08 meses depois, foi deposto por um novo golpe militar planeado pelo general Cédras que Aristide nomeara para a chefia do Estado-Maior e mais tarde como comandante-chefe do Exército. E a ditadura restaura-se no Ayiti.

Em 1994, apoiado pelo Estados Unidos da América, Aristide reassume o país com a economia destroçada pelas convulsões internas, mesmo assim, o ciclo de violência, corrupção e miséria não é rompido.

Os protestos contra Aristide, em janeiro de 2004, fizeram várias mortes em Porto Príncipe, capital de Ayiti. Em fevereiro de 2004, surgiram conflitos armados em Gonaives, espalhando-se pelas outras cidades. Gradualmente, os rebeldes assumiram o controle do norte do Ayiti. Com o avanço destes rebeldes, o antigo presidente, em 29 de Fevereiro, asila na África do Sul e o Ayiti sofre intervenção internacional pela ONU.

Nesse sentido, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou o envio da Força Multinacional Interina, liderada pelo Brasil. Todavia, “considerando que a situação no Ayiti ainda constituía ameaça para a paz internacional e a segurança na região”, o Conselho de Segurança decidiu estabelecer a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Ayiti (minustah), que assumiu a autoridade exercida anteriormente pela Força Multinacional Interina, em 1 de Junho de de 2004, igualmente comandada pelo Brasil.

Missão que sempre foi combatida pelos ayitianos que a considera um braço do domínio imperialista na América latina, tendo a situação do país piorado após a ocupação das tropas minustah. Procurando garantir apenas a segurança das empresas multinacionais instaladas no país, que exploram brutalmente a mão-de-obra barata (escravos modernos), produzindo para os estados unidos a custos mínimos como na China e Bangladesh. "As tropas não estão cumprindo ajudas humanitárias", pelo contrário reprimem as lutas do povo, assassinam aytianos e estupram mulheres. "A ocupação militar e o plano económico" reduziu Ayti novamente a uma colónia. Saiba mais em www.scribd.com/doc/20850531/null.

Actualmente a economia de Ayiti encontra-se destroçada e em ruínas. O povo sofreu a perversidade de seus dirigentes tanto quanto sofrera a da colonização. Uma pequena minoria inspirou-se nos espanhóis, franceses, ingleses, americanos para perenizar a escravidão sob outras formas. Expulsou-se o mau senhor, mas aprendera-se com ele a pilhar, a roubar, a explorar, a reproduzir a dominação.

A outrora “pérola das Antilhas” que motivara os espanhóis, franceses, ingleses e americanos a explorarem seres humanos, com a captura de milhares de crianças, mulheres e homens da nossa ancestral mãe África para trabalharem nas plantações, é hoje a devastada Ayiti, que a 12 de Janeiro de 2010 foi surpreendida por um terremoto de proporções catastróficas, que alguns dizem merecido pelos séculos de adoração ao diabo, referindo-se ao Vodu (o deus da resistência negra, que assim como o criollo são as raízes do Ayiti, sendo o hougan, sacerdote vodu, um sacerdote completo que canaliza, orienta, revigora e vivifica a fé comunitária), e outros vêem como uma oportunidade para desenvolver a economia interna, conservar o poder e reconhecimento internacional por ditas “ajudas humanitárias” concedidas ao Ayiti.

Os ayitianos sobreviventes são obviamente, pelo seu percurso, um dos povos materialmente mais pobres do mundo, tal-qualmente, como genuíno africano, os mais corajosos da terra, que não se resigna, sempre fiel à Cultura e aos valores da Liberdade, por isso achará o Nia (Caminho, próposito) para continuar a labuta pela própria sobrevivência.

Avante Ayiti, para ti e todos os africanos (dentro e fora da mãe Alkebulan), ainda,
A LUTA CONTINUA.

Abenaa.

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